Tuning vs Street Racing, para reflectir

Tuning vs Street Racing

Exmos. Srs.

Antes de mais, queria pedir-vos que lessem REALMENTE o texto, depois de o terem lido, em consciência, decidirão o que pretendem fazer com o mesmo.

Estou a escrever-vos, pois estou extremamente preocupado com os contornos absurdos a que está a chegar a perseguição aos amantes de certo tipo de automóveis neste país.

À medida que os anos vão passando, é cada vez mais notória a incapacidade dos sucessivos responsáveis em determinar o real problema do panorama nacional rodoviário. Posto isto, vão-se sucedendo e alternando os bodes expiatórios, com vista a tentar explicar este bicho de 7 cabeças!

Porém, até eu, que não sou nenhum Mestre, Doutor, nem tão pouco me considero especialmente “iluminado”, sinto-me capaz de deslindar este enigma de aparente difícil resolução. O que se passa nas estradas portuguesas, já de há muito tempo para cá, é apenas e somente, um reflexo do que encontramos na sociedade na qual nos inserimos, por outras palavras, impera a falta de respeito, ausência de civismo, muita “esperteza saloia” e pouco bom-senso. Ora se este cocktail explosivo, consegue por vezes ser dissimulado e atenuado nos meandros da sociedade devido aos diversos “agentes reguladores”, o mesmo já não se passa nas nossas estradas, onde a margem de erro é sem dúvida diminuta e os erros se pagam caros.

Desmistificado o real problema do panorama nacional rodoviário, passemos então a outros pontos. Qualquer carro que seja, tenha 50 ou 500 cavalos, não anda sozinho, é controlado pelo seu condutor, o que equivale a dizer, que qualquer um dos dois veículos pode infringir o código da estrada, bastando para isso a predisposição do seu condutor. Será então correcto, continuarmos a assistir, e ter como certas, as ridículas inferências infundadas que nos querem fazer ver que o aumento de potência dum carro aumenta exponencialmente o risco de acidente?

Para se demonstrar coerência com o raciocínio apresentado, passaria por todos termos de nos reger pela mesma bitola, o que equivaleria a dizer que teríamos de ver todos os carros com a sua velocidade controlada electronicamente, com vista a que não se cometessem excessos de velocidade. Já que a culpa aparentemente é dos carros e não dos condutores, parece-me a única forma plausível de o fazer.

Ironias à parte, e agora sem areia nos olhos, certamente concordarão comigo que tão perigoso poderá ser um Ferrari Enzo, quanto uma Renault 4L, tudo dependerá SEMPRE da pessoa atrás do volante, vulgo condutor. Não faz portanto sentido, continuar a querer matar a formiga com uma bomba atómica, desta forma nunca haverá evolução.

Sempre existiu, e existirá sempre, mesmo quando estes forem substituídos por naves espaciais, o gosto pelos automóveis e tudo o que com eles esteja relacionado, independentemente da potência dos mesmos! Actualmente, esse gosto pelos automóveis vê no tuning um dos seus expoentes máximos. O Tuning, poderá ter enumeras definições, mas para mim, o Tuning não é mais que um hobby que se traduz na forma de expressarmos o amor que nutrimos pelo nosso carro, embelezando-o e tornando-o mais performante/seguro, dentro das variadas vertentes possíveis.

Street-racing-1

O Tuning é hoje em dia vulgarmente confundido com o Street-Racing, muito por culpa da deturpação por parte dos media, fruto das notícias de baixo nível, sem credibilidade, sem trabalho de background, cujas fontes são duvidosas e que invariavelmente culminam em notícias bomba, tipo capa do 24 Horas, ou notícia de abertura do Jornal da Noite da TVI! O Street-Racing, muito resumidamente, é uma actividade que tem como objectivo realizar corridas nas vias públicas, pondo na maior parte das vezes os restantes utentes das vias, em risco. Apesar de muitas das vezes os carros que entram nas ditas corridas de rua, poderem estar alterados mecânica/esteticamente(tuning) há que distingui-los daqueles que usam o Tuning apenas em proveito próprio. E como?! Facilmente…

Distinguem-se da mesma forma que se distingue o Ferrari Enzo, da Renault 4L, pela pessoa que vai atrás do volante, o condutor.

Posto isto, haverá ainda alguma razão plausível e devidamente sustentada que justifique esta caça ao tuning com que nos deparamos actualmente?

Atenção, que até aqui estava apenas a falar do senso comum, do aspecto moral, vamos então dar uma olhadela na (i)legalidade por trás desta perseguição.

A norma vigente, diz que poderá ser apreendido um veículo para inspecção extraordinária se for detectada qualquer alteração às características funcionais dos mesmos, até aqui tudo bem, quem leia isto, acena de imediato com a cabeça em sinal de aprovação, eu mesmo o faria, se não soubesse o que está por trás disto tudo.

Estas alterações às características funcionais dos veículos, não são como se poderia pensar, aqueles carros mais velhos que eu, cujo chassis está mais empenado que a estrutura metálica dos jipes da 2ª guerra mundial, ou cujos travões já não sejam sequer dignos desse nome, passando facilmente por “abrandadores”, ou ainda, por pneus cujo rasto, ou ausência dele, possa fazer com que sejam facilmente confundidos com pneus de corrida (Slicks), enfim, poderia continuar aqui o dia todo, mas acho que já perceberam a ideia. O que eles realmente estão a perseguir, é as pessoas que procuram tornar o seu carro mais seguro/performante, estão a “embirrar” inclusive com molas de rebaixamento e amortecedores melhores que os de origem(que vêm muitas vezes de origem, em carros de cariz desportivo), e isto tudo com a justificação, de que não se pode mudar porque não é o equipamento de origem e torna o carro mais perigoso, o que é tudo uma mentira pegada, como é sabido por qualquer pessoa com “dois dedos de testa”.

tuning-certification

É ainda MUITO IMPORTANTE SALIENTAR, que estes produtos que eles alegam ser ilegais, são específicos para os veículos em causa, foram testados, “re-testados” e aprovados pelas normas vigentes, tal como tem de o ser qualquer outro produto que esteja à venda num determinado estabelecimento comercial, pagam os mesmos 19% de IVA e encontram-se à venda em estabelecimentos LEGAIS e abertos ao público, que por sua vez pagam os seus impostos ao estado. Agora digam-me lá, é curioso, ou não é? Se fosse realmente ilegal, como a droga, por exemplo, seria fácil encerrar aquelas lojas.

O que é um facto é que ainda continuam a existir pessoas a dar dinheiro duas vezes ao estado, pois tiveram de colocar novamente os acessórios de origem nos carros, sobre pena de verem os seus documentos apreendidos, apesar de terem plena consciência que tal é feito sem um pingo de decência e razão! Depois queixam-se que há fuga ao fisco…

Ou seja, basicamente, se queremos tornar os carros mais seguros somos marginais, se queremos tornar os carros mais performantes, somos marginais, MAS, lá voltamos à eterna questão, por eu ter um Ferrari, não quer dizer que tenha de andar necessariamente em transgressões, como também não invalida, que com um carro daqueles que nem é preciso carta, eu não possa transgredir, e quem sabe, criar mesmo um grave acidente!

Uma vez posta a legalidade e a razão em causa, vejamos os efeitos práticos que pequenas alterações significativas podem ter na segurança dum veículo, alterações estas, que relembro que podem ser encontradas de série em veículos normalmente já duma gama mais elevada. Para isso, far-se-ia um teste exaustivo entre um veículo de origem e um veículo alterado(tuning), onde passo a passo, seriam descritos os resultados práticos e reais, que cada alteração trouxe ao veículo, nos referidos testes. Os resultados deste teste, são resultados fictícios, visto que o que interessa, mais que a precisão dos mesmos, é a diferença entre eles ( origem vs alterações ).

car-testing

Carro de origem:
Distância de Travagem em seco 100km/h-0 -> 44 metros.
Distância de Travagem em molhado 100km/h-0 -> 47 metros.
Aceleração Lateral -> 0.7 g
Teste do Alce -> não sei como se mede
Slalom -> não sei como se mede

Carro de origem com jantes superiores às de origem, numa polegada:
Distância de Travagem em seco 100km/h-0 -> 43 metros.
Distância de Travagem em molhado 100km/h-0 -> 46 metros.
Aceleração Lateral -> 0.72 g
Teste do Alce -> melhor resultado que de origem.
Slalom -> melhor resultado que de origem.

Carro de origem com jantes superiores às de origem, e com barra Anti-Aproximação:
Distância de Travagem em seco 100km/h-0 -> 42,8 metros.
Distância de Travagem em molhado 100km/h-0 -> 45,7 metros.
Aceleração Lateral -> 0.73 g
Teste do Alce -> melhor resultado que de origem, e substancialmente superior ao teste anterior.
Slalom -> melhor resultado que de origem, e substancialmente superior ao teste anterior.

Carro de origem com jantes superiores às de origem, com barra Anti-Aproximação, molas de rebaixamento e amortecedores de maior eficácia:
Distância de Travagem em seco 100km/h-0 -> 41 metros.
Distância de Travagem em molhado 100km/h-0 -> 44 metros.
Aceleração Lateral -> 0.75 g
Teste do Alce -> Resultado excelente, numa prova do género, melhorou e muito, face ao carro de origem.
Slalom -> Resultado excelente, numa prova do género, melhorou e muito, face ao carro de origem.

Carro de origem com jantes superiores às de origem, com barra Anti-Aproximação, molas de rebaixamento com amortecedores de maior eficácia, e kit de travagem superior:
Distância de Travagem em seco 100km/h-0 -> 39 metros.
Distância de Travagem em molhado 100km/h-0 -> 42 metros.
Aceleração Lateral -> 0.75 g
Teste do Alce -> idêntico ao teste anterior.
Slalom -> idêntico ao teste anterior.

Facilmente chegamos à seguinte conclusão, todos este itens PROVARAM por “A+B” que REALMENTE MELHORAM a SEGURANÇA dum veículo, e não é pouco!

Curiosamente, é precisamente o contrário que muitos dirigentes e responsáveis apregoam como sendo uma verdade universal, e isto, meus amigos, é MUITO GRAVE, não deve ser tratado com a leviandade com que tem sido até agora! Todos os argumentos, que na realidade nem são dignos desse nome, apresentados por eles até agora, caem assim por terra.

Afinal de contas, quem é que tem de provar o quê, mesmo? Podia ainda referir o caso das películas, cuja colocação era proibida há uns tempos(diziam eles, os especialistas, por serem inflamáveis a partir de determinada temperatura, se bem que a essa temperatura já todo o carro teria ardido, mas isso agora não interessa nada) mas podem ser facilmente vistas, em carros de ministros portugueses(viva a coerência!). No Brasil é pratica comum, os carros já virem com películas de origem, estarão os malucos, doidos?! Enfim, tanta idiotice e incoerência pegada, que dava quase para juntar mais um “canto” à obra de Camões!

Resta-nos então, concluir que os nossos queridos Governantes numa das suas incessantes buscas por alvos fáceis, viram no tuning, mais um sitting duck (alvo fácil) e temos de admitir, que para o efeito pretendido, basta uma entrevista parcial devidamente contextualizada com umas imagens comprometedoras, alguns discursos desprovidos de inteligência por parte de vários “tuners”, para se conseguir manipular a opinião pública… e o melhor de tudo isto, é que ainda saem da história como benfeitores, ganham dinheiro com as receitas provenientes das multas e ainda livram a população desse mal terrível, que é o Tuning, ou “Tunning“, como tanto gostam de lhe chamar! Aposto que já está inclusive em marcha, a elaboração dum nome sonante para descrever a próxima operação, o nome da operação tem é de ser sempre precedido duma cor, tipo, operação manete cromada, para ficar em consonância com as restantes e recentes operações com artefactos coloridos, que têm sido notícia no país.

É lógico que não posso deixar de pôr eu causa, valores como democracia, liberdade de expressão, etc… Proibirem o Tuning, além de ser estúpido por todas as razões que acima descrevi, é tão grave como proibirem uma pessoa de colocar um piercing, pintar as paredes da sua casa de verde, ou vestir determinada peça de roupa, é retirarem-nos a nossa própria identidade e liberdade de expressão. Para corroborar o que digo, nada como dar uma vista de olhos no Artigo 13.º da Constituição Portuguesa:

(Princípio da igualdade)
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social.

Como se designam, e em que penas incorrem as pessoas que não cumprem com o que está expresso nesses artigos?

Ou… será que existe uma adenda confidencial à constituição, cheia de asteriscos e alíneas que ultrapassam o alfabeto português, onde se prevêem todas as situações não previstas? É que isto de só nos lembrarmos dos artigos quando nos convém…

Enfim, apesar de nos depararmos aqui com um rol de imoralidades, inconstitucionalidades e mesmo ilegalidades camufladas, por muito estúpido que isto possa parecer, os “tuners” encontram-se de pés e mãos atadas, pois os mártires e os heróis desapareceram desde que foi inventada a pólvora, e qualquer manifestação menos silenciosa, pode ser alvo de forte opressão, e hoje em dia ninguém se pode dar ao luxo de ser preso, ou ficar sem carro em prol duma causa, seja ela qual for.

Agora, depois de tudo isto, das duas, uma, ou eu estou maluco, e as leis da física, matemática e lógica vão sofrer alterações drásticas, ou algo de errado se passa neste país!

Resta-me portanto, apelar ao bom-senso de quem de direito, que ponham a mão na consciência e vejam bem o que estão a fazer.

Para qualquer esclarecimento adicional, ou comentário, não hesitem contactar-me pela mesma via, para o e-mail: tiago.ferreira@equifax.es

Com os melhores cumprimentos, certo da vossa melhor atenção Atentamente

Autor: Tiago Ferreira [Citro]

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