No fim-de-semana passado, uma reportagem na televisão a que chamaram “caça ao tuning” indignou todos os verdadeiros entusiastas desta actividade que se dedica a alteração e melhoria dos vários aspectos de um automóvel. Já desde algum tempo que os canais sensacionalistas têm contribuído para a má imagem desta actividade pois têm insistido em chamar tuning ao que vulgarmente se chama street racing (corridas de rua), que é uma coisa diferente. Um exemplo comparativo e que serve para introduzir a diferença entre estes dois assuntos é o facto de por ex. haver hooligans entre os adeptos de futebol. Isso não significa que todos os adeptos são hooligans e que para se acabar com eles se tenha que acabar com o futebol. O facto de se pretender acabar com as corridas na Vasco da Gama e noutros locais não implica acabar com o tuning ou ilegaliza-lo.
Actualmente, com suporte legal no actual código, as autoridades encontram-se em “guerra aberta” a todos e quaisquer condutores que “detenham alterações das propriedades originais do veículo”. Na prática, o que se pretende é acabar e dificultar a acção dos denominados “Street Racers” que correm na via pública, sem olhar a meios e sem ter em conta a segurança de terceiros. É efectivamente uma medida de louvar, tendo em vista a redução da sinistralidade em Portugal, porém, a medida de proibir alterações nas propriedades originais dos veículos é “colocar todos no mesmo saco”. Infelizmente os Street Racers também fazem “Tuning” aos seus veículos para obterem a melhor performance, mas a solução não é proibir o tuning, porque os amantes do tuning não são obrigatoriamente “Street Racers”!
Então na realidade o que está a ser distorcido por estas novas medidas? Na verdade, dificulta-se a vida aos street racers, mas quando se quer eliminar um “vírus”, tomam-se medidas desapropriadas e típicas de quem não quer solucionar o problema, apenas tapar os olhos à opinião pública.
Quer isto dizer que a medida adoptada, além de estar em directa contradição com os nossos membros da Comunidade Europeia, ao invés de contribuir para a redução da sinistralidade, tem o efeito contrário nos condutores que se preocupam com a sua segurança e a dos seus, porque, esta lei proíbe por exemplo que se melhore a segurança e comportamento de um veículo. O aumento da largura dos pneus, ou a substituição da suspensão, que contribuem largamente para o aumento da segurança dos veículos, nomeadamente estabilidade e distâncias de travagem, é também punido e sujeita à apreensão dos documentos. Será que o condutor não tem o direito de aumentar e contribuir para a sua segurança e a da sua família através da instalação no seu veículo de equipamento superior ao que a marca resolveu instalar? E porque punir a substituição de um sistema de travagem quando se está a contribuir para melhorar as distâncias de travagem? Será que tornar a suspensão mais eficaz, trocando-a por outra do mesmo fabricante mas dimensionada para a estabilidade em detrimento do conforto é contribuir para o aumento da sinistralidade?
Será que a partir de agora usar peças chamadas “da concorrência” em detrimento das peças originais vai ser proibido também (o conceito é o mesmo)? As empresas que fabricam os diversos componentes para os automóveis, têm muitas vezes linhas de produtos para quem quer alterar o aspecto e qualidade do seu automóvel. Estes produtos seguem as mesmas normas e são sujeitos até a mais testes que os desenvolvidos para os fabricantes de automóveis. Será proibido usar os produtos destas empresas quando são melhores que os originais? E o que pensa fazer o governo com as mais de 500 empresas que comercializam e se dedicam exclusivamente ao tuning em Portugal? Provavelmente ainda não pensaram nisso. Vão aceitar os impostos de empresas que se dedicam a actividades ilegais? Provavelmente esse dinheiro faz falta para comprar os carros de alta cilindrada para os ministros, que ultrapassam constantemente os limites de velocidade, carros esses equipados com película de escurecimentos dos vidros, também ela considerada ilegal pela actual legislação. Ou então para comprar super carros equipados com tuning e com alterações de motor para a GNR. Fechar estas empresas significaria outro grave problema para o governo pois lançaria no desemprego muitas pessoas criando outro problema social.
Penso que quando alguns de nós votamos para fazer parte da União Europeia tínhamos em mente que isso significaria um desenvolvimento do nosso país, e entre outras coisas a partilha de instituições e a normalização progressiva das leis.
Pergunta-se então porque é que os organismos existentes que atestam a qualidade e segurança dos diversos componentes tuning (TÜV e VDAT por exemplo) não são igualmente aceites em Portugal para confirmarem a qualidade dos produtos? Porque não aceitar o que foi feito noutros países com muito êxito? Não me querendo alongar mais, queria apenas esclarecer sobre o que significa o termo TUNING, que infelizmente tem sido mal interpretado pelos MEDIA e em consequência, pela população em geral.
TUNING é o acto de afinar ou optimizar algo! É um modo de vida para muita gente que gosta de automóveis e de os ajustar ao seu gosto e necessidades, porque não somos todos iguais. Tem várias vertentes, desde a mecânica, a dinâmica, segurança, estética, áudio, até ao mais ínfimo pormenor que se possa pensar e que possa individualizar ou melhorar qualquer automóvel. Os amantes do tuning estão apenas interessados em obter uma maior qualidade e individualidade dos seus veículos. Outra vantagem do tuning é que na maior parte dos casos os seus adeptos mantém sempre o carro em melhores condições que o utilizador normal. O nosso “crime” é que o nosso hobby é o interesse que temos pelos automóveis! Talvez não o hobby mais barato, mas decerto tão legítimo como a caça, a vela, o futebol, as touradas, os computadores, ou mesmo a colecção de selos!
Não pretendemos que as pessoas deixem de ser punidas por infringir a lei. Queremos apenas que haja leis justas.
TUNING não é “Street Racing” !!!
Autor: tuningonline & MaoTsungTse