Cortar custos no seguro automóvel abdicando de coberturas de danos próprios pode acabar por sair bem caro às famílias que se vejam envolvidas em sinistros que causem danos nos seus próprios veículos. Roubos e inundações são os riscos mais comuns e nenhum veículo está livre de ser atingido por um desses sinistros

As primeiras chuvas fortes de Outono já começaram a cair e os primeiros sinais de alarme soaram no norte do país. Ruas alagadas em várias localidades denunciam estragos em habitações e em viaturas estacionadas na via pública. Se não dispuserem de coberturas de fenómenos da natureza, os proprietários destes veículos terão de suportar, do seu próprio bolso, eventuais despesas de reparação dos seus veículos. A culpa, essa, será da chuva.

As imagens de veículos destruídos ocupam, regularmente, os espaços noticiosos dos dias mais fustigados pelas intempéries. E a proximidade do Inverno aumenta a probabilidade de repetição de tais imagens. Perante a calamidade, muitos proprietários de viaturas vão lamentar os estragos provocados pela chuva e só aqueles que dispõem de coberturas específicas de fenómenos da natureza para os seus veículos terão uma indemnização assegurada por uma companhia de seguros. O mesmo acontece com as vítimas de roubo dos seus veículos, que apenas receberão a respetiva indemnização da companhia de seguros se nela tiverem subscrito uma cobertura de furto ou roubo para a sua viatura. E o mesmo acontece ao proprietário de uma viatura envolvida num acidente de viação e identificada como viatura causadora do sinistro, mas que ficou, ela própria, danificada em consequência do embate. Aqui, a subscrição de uma cobertura de choque, colisão ou capotamento garantiria o pagamento das despesas de reparação do próprio veículo, além das obrigatórias indemnizações devidas aos terceiros lesados no mesmo sinistro.

Choque, colisão e capotamento, furto ou roubo e fenómenos da natureza são coberturas facultativas. A sua subscrição implica uma subida do prémio anual do seguro automóvel e nem todos os portugueses têm rendimento disponível para fazer face a uma despesa acrescida. Outros já chegaram a contratar essas garantias, mas estão agora a abdicar delas, num contexto de agravamento da austeridade que condiciona fortemente o poder de compra das famílias. "Tradicionalmente a cobertura facultativa mais valorizada pelos portugueses é a de choque, colisão e capotamento, tipicamente conhecida por ‘contra todos' os riscos. Mas recentemente, com as alterações climatéricas, os consumidores estão também mais sensibilizados para coberturas como a de fenómenos da natureza", revela João Gama, diretor de Comunicação e Estudos de Mercado da MAPFRE.

"Numa primeira análise a conjuntura económica porque estamos a passar tem um impacto forte ao nível da procura com uma natural preocupação de todos com a racionalização de gastos, potenciando uma redução do nível de proteção. Por outro lado, há uma maior consciência da dificuldade da reposição de um bem perante uma situação de acidente e essa vulnerabilidade alerta para necessidade de prevenir os riscos", explica João Gama.

Com efeito, se pagar o prémio correspondente à subscrição de coberturas facultativas pode parecer penoso a muitas famílias, mais difícil se tornará certamente fazer face às despesas de reparação do veículo em caso de sinistro não coberto por qualquer garantia que transfira a responsabilidade de reparação para uma companhia de seguros. E a consciência dessa possibilidade começa a ganhar relevância nas contas domésticas de alguns segurados, confirma Rita Sambado, diretora de Marketing da Fidelidade. "Com a quebra na venda de veículos novos, a adesão a planos mais completos de danos próprios tem naturalmente diminuído. No entanto, temos verificado que os clientes estão mais alertas para determinados riscos, preferindo fazer um esforço financeiro superior para garantir alguma proteção, por saberem que futuramente terão menos capacidade para suportar custos extraordinários, fator que tem contribuído para o ‘upgrade' para planos que garantem um aumento da proteção a prémios acessíveis, ainda que sem a abrangência de seguros completos de danos próprios", refere a responsável da Fidelidade. "No fundo, estes clientes preferem assumir um custo certo do que lidar com o inesperado, sentindo algum conforto em saber que têm um seguro que lhes retira a pressão decorrente de um azar, quando já têm tantas outras despesas com que se preocupar", acrescenta Rita Sambado.

Por outro lado, a crescente divulgação de notícias relacionadas com o aumento da criminalidade até poderia incentivar os consumidores a subscrever coberturas de furto ou roubo para os seus veículos. No entanto, a generalidade dos operadores não confirma uma correlação óbvia entre os dois fenómenos, acreditando que a preocupação despertada pelas notícias é genuína, mas que geralmente não se converte na concretização de contratações de coberturas adicionais para o seguro. O mesmo se passa, aliás, com a contratação da cobertura de furto ou roubo para as habitações. A preocupação é generalizada, a contratação de coberturas que protejam as habitações contra este fenómeno já não é tão generalizada assim.

Mas subscrever uma cobertura de furto ou roubo para um veículo é protegê-lo contra várias situações que podem assumir proporções devastadoras para muitas famílias. Cláudia Taborda, responsável pela área de seguros particulares auto e bens da Liberty Seguros, explica ao OJE que com esta cobertura, o veículo passa a estar coberto em caso de desaparecimento, roubo de peças, aparelhos acessórios ou instrumentos e danos em caso de tentativa de furto ou roubo. A mesma cobertura assegura ainda a reposição de chaves e a eventual substituição da fechadura. Cláudia Taborda constata também que a procura desta garantia não tem sofrido grandes alterações, nem mesmo com a agudização da crise e com a intensificação dos relatos de fenómenos de criminalidade contra veículos.

Ana Santos Gomes / OJE